domingo, 15 de julho de 2018

Qual o projeto de país que almejamos? - Brasil de Fato

Qual o projeto de país que almejamos?

“Numa terra radiosa vive um povo triste”, escreveu Paulo Prado em “Retrato do Brasil”. Eis o clima no Brasil hoje.

 

Por Frei Betto* 

Diálogos do Sul, 13 de Julho de 2018 às 18:00

Não é para menos. O desemprego atinge quase 14 milhões de pessoas; a reforma trabalhista de Temer retirou direitos conquistados; o pré-sal é vendido a estrangeiros; o PIB recua; a violência urbana e rural se acentua; o assassinato da vereadora Marielle Franco prossegue sem elucidação; mais de 60% dos jovens gostariam de deixar o país; a seleção brasileira de futebol é derrotada na Copa; o presidente mais impopular da história do país ocupa o Planalto, e o mais popular, a prisão.

Hipócrates diria que os brasileiros se dividem hoje entre coléricos e melancólicos. As redes digitais propagam todo tipo de ódio e preconceito, enquanto as farmácias proliferam em cada esquina e faturam alto com a venda de Prozac e similares.

Max Weber definiu modernidade como “desencantamento do mundo”. E nós, desencantados com o Brasil? Essa baixa autoestima explica o índice recorde de votos brancos e nulos nas próximas eleições: um em cada quatro eleitores assim se posicionam (Datafolha, junho).


Recuperar a autoestima supõe responder a esta questão:
 qual projeto de Brasil almejamos para as futuras gerações? 
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Difícil deixar o pessimismo para dias melhores. O panorama visto da ponte não inspira confiança de nos levar ao futuro, e há indícios de retrocessos (“Intervenção militar já!”). A riqueza mundial se afunila sobre a horda de miseráveis; 68,5 milhões de pessoas se deslocam pelo mundo em busca de um pouso acolhedor; a democracia dos EUA submerge aos humores imprevisíveis de um presidente xenófobo e racista.

Freud define a melancolia como luto patológico advindo da perda de um objeto que, em última instância, é o próprio eu. A pátria brasileira perdeu a identidade? Onde está ela? No bico de uma chuteira? No crescimento do PIB? Na cegueira da Justiça perante a corrupção?

O fator identitário é essencial à autoestima. Tanto de uma pessoa quanto de uma nação. Na esfera pessoal, muitos o buscam na religião, no êxito profissional, no apego ao cargo que ocupam. No social, na confiança de que há empenho do governo na redução da desigualdade social, na melhora da economia, na inclusão dos que se encontram na miséria e na pobreza. As tradições espirituais comprovam que duas vertentes se entrelaçam na vida daqueles que são exemplos de forte autoestima: imprimir à existência um sentido altruísta e perseguir um projeto coletivo de justiça e paz. São pessoas que abandonaram a zona de conforto e entregaram suas vidas para que outros tivessem vida. São multidão. A maioria, anônima. E poucos conhecidos: Jesus, Francisco de Assis, Gandhi, Luther King, Mandela, Teresa de Calcutá, Chico Mendes, Betinho etc.


 


Já a felicidade de um povo advém de sua autoestima como nação, de seu projeto histórico, de sua proposta civilizatória. Quando um povo abdica de perseguir um projeto de nação e se contenta na busca individual de melhoria de vida pelo consumo, ele se esgarça em coletividade anódina, refém dos caprichos do mercado e insensível aos dramas sociais.

Recuperar a autoestima supõe responder a esta questão: qual projeto de Brasil almejamos para as futuras gerações?

* Escritor e assessor de movimentos sociais


terça-feira, 10 de julho de 2018

O BRASIL DIVIDIDO...

O Brasil dividido...

2014 nos revelou o quanto a nossa nação esta perigosamente dividida e não é só uma divisão política partidária.

 

Por Marcus Pereira



Da derrubada da Presidenta Dilma em 2016 (O GOLPE) até o último episódio ocorrido no dia 08/07/2018 (A PROTELAÇÃO DO HABEAS CORPUS DO EX-PRESIDENTE LULA) podemos ver o quanto perto estamos chegando do fundo do poço (Jurídico, Moral, Social e Político).




Encontramos nesses últimos dois anos todo o ranço, todo preconceito e todo ódio, parte da herança das classes dominantes do período colonial, nos reencontramos com o passado (que na realidade nunca ficou para trás) onde a divisão de classes era mais explicita e talvez mais fácil de se conviver com ela, pois não se maquiava a sua existência, hoje mais presente do que nunca essa divisão está nas RUAS, nas FAVELAS, no JUDICIÁRIO, no LEGISLATIVO e no EXECUTIVO.

E a política se tornou o termômetro dessa divisão ou alguém duvida que os últimos acontecimentos, que atingiram diretamente a classe trabalhadora, não seja fruto um movimento organizado pela elite nacional com o propósito de derrubarem ou frearem a ascensão dos herdeiros da senzala? Para OS GOLPISTAS pouco importa se para conseguirem seus objetivos estejam comprometendo a nossa tão sonhada soberania.

Onde quer que possamos imaginar, em todos os setores da sociedade esta divisão está presente e não venham com essa história que temos centro, centro direita. O que existe é a elite e a classe trabalhadora ou como queiram DIREITA e ESQUERDA.


 Nos três poderes quem defende a direita (ELITE) criminaliza quem defende qualquer pensamento progressista, qualquer pensamento que possa melhorar a vida dos trabalhadores. Direita X Esquerda, esta é a grande batalha do momento, não se enganem pois em meio a toda essa bagunça, imoralidade que vemos a cada novo dia, não existe a menor preocupação em buscar um verdadeiro combate a corrupção, existe de forma explicita (só não ver quem não quer) uma orquestração, por parte da classe dominante, para nos colocarem, no lugar que pra eles nunca deveríamos ter saído, na SENZALA.


Nessa briga (DIREITA x ESQUERDA) não podemos nos iludir, todos tem um lado, ou se está do lado do povo ou se está do lado das oligarquias coloniais, ressuscitadas com ascensão dos canalhas que se alojaram no comando do país. (PELO GOLPE).

E as oligarquias repressoras tem na mídia sua principal parceira, esta encarregada de disseminarem na mente da população, que nessa história, quem esta lutando contra as reformas são os BANDIDOS e quem está destruindo o projeto de nação é o MOCINHO.

Mas não podemos ser inocentes, em nenhum momento os GOLPISTAS demonstraram a preocupação de buscar a pluralidade de uma sociedade mais justa e igualitária, estes até o momento só estão preocupados em criar barreiras sociais (APARTHEID) excluindo e colocando às margens a classe trabalhadora.

O Brasil está dividido, está é a verdade, e permanecerá por muito tempo. E essa divisão, não duvidem, é uma grande ameaça a instabilidade social do país, onde o povo já começa a dá sinais de que não suportará por muito tempo. Estamos a beira de uma CONVULSÃO POPULAR não se enganem.




É no desenrolar dos atos políticos vindouros que grande parte da população ainda aposta suas fichas, as próximas eleições nos dirá muito sobre essa divisão, mas a elite nacional está armada até os dentes e está escolhendo a dedo o líder do BRASIL QUE ELES QUEREM e vão jogar de goela abaixo do povo brasileiro com a propaganda ilusionista de que será O BRASIL QUE QUEREMOS.

Precisamos mostrar a essa canalhada que, o amanhã começa a se desenhar hoje, com nossos atos de repúdio a forma como somos tratados, precisamos dizer nas urnas que O BRASIL QUE QUEREMOS não está no mapa que eles desenham, precisamos dizer que não queremos um país dividido, queremos um país inteiro, onde todos tenham ao menos o direito de sonhar, precisamos desenhar o verdadeiro mapa do Brasil nas ELEIÇÕES DE OUTUBRO.




VIVA O POVO BRASILEIRO!!!!


sexta-feira, 6 de julho de 2018

FAMÍLIAS BRASILEIRAS E O MAPA DA FOME - Brasil de Fato

FAMÍLIAS BRASILEIRAS VEEM O RISCO DE VOLTAR AO MAPA DA FOME DA ONU


Com a redução de políticas sociais e a grave crise econômica do país, a situação de miséria volta a atormentar

 

Nilmar Lage - Brasil de Fato | Região Metropolitana do Vale do Aço (MG),
26 de Junho de 2018 às 10:36


Joana acha alface no meio do monte de legumes trazidos na carroceria do caminhão
por Onofre / Nilmar Lage

O Brasil está na iminência de um vergonhoso retorno ao mapa da fome da ONU (Organização das Nações Unidas), de onde tinha saído em 2014. Com a entrada do governo golpista de Michel Temer, a partir de 2016, os investimentos sociais deixaram de ser prioridade e o corte em programas como o Bolsa Família ou o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) afetou diretamente famílias como a da mineira Maria Joana.

Joana tem 64 anos e há 17 mora às margens da BR 458, no entorno do colar metropolitano do Vale do Aço (MG). Natural de Bom Jesus do Galho (MG), viúva do primeiro marido e deixada pelo segundo, é ela quem gerencia o pequeno barraco onde mora com seu filho de 25 anos e o neto Claiton de 12 anos. Três pessoas e a única renda fixa vem do benefício de R$ 171 do Bolsa Família.


Foto: Nilmar Lage

“Com todo o peso do mundo em suas costas”, Joana é de riso fácil. Cheguei cedo e só ela estava acordada e ativa. Tinha feito café, buscado um pouco de água na cisterna e cuidava da criação. Muito curioso, Claiton levantou com a minha chegada, veio sem escovar os dentes mesmo e me ofereceu uma mexerica. Arredio, o filho de Joana não me olhou nos olhos, não cumprimentou e eu o deixei a vontade na sua particularidade.

Atenciosa, Joana começa a compartilhar sua história de vida. Fala com carinho dos tapetes que costura, conta com orgulho a sua luta e da decisão de tentar melhores condições ao ocupar um pedacinho de terra para subsistência. Isso porque com o rendimento não conseguia mais pagar o aluguel, fazer compras, pagar passagens, comprar roupas.



Mineiro tem fama de desconfiado. O filho de Joana é a expressão viva desse estereótipo. “Quando saí da cadeia, fiquei dois anos e meio longe do crime. Um dia minha mãe passou mal, eu não tinha dinheiro para um mototaxi para levá-la ao hospital”. Foi o chamado para voltar ao tráfico e tentar uma renda a mais na casa.

Joana não aprova as escolhas do filho, mas acolhe e sabe dos riscos e das consequências deste caminho. Para ele, a falta de oportunidades foram o levando para esse caminho. “A televisão mostra altos financiamentos e eu moro em um lugar que não tem nem reboco. Eles me ilude (sic) a ter uma coisa que não posso e depois me oprime (sic) porque eu corro atrás daquilo”. Ele acha que as consequências tem que ser cobradas, “mas nem todo mundo faz porque quer. As vezes o filho de quem julga tá bem, mas porque teve uma escola.”

Fome


No final dos anos 80, a década perdida, Jorge Furtado apresentou famílias que sobreviviam do resto de feira no documentário “Ilha das Flores”.

Em 2018, com um país dominado pelo agronegócio e pela ditadura da estética, o desperdício atinge até mesmo frutas, legumes e hortaliças “feias”, que por não estarem vistosas, são descartadas ao lixo. Foi nesse lixo que Joana achou alface no meio do monte de legumes trazidos na carroceria do caminhão por Onofre. Ela sorriu timidamente e, de maneira assertiva, disse que só precisava lavar e colocar um pouco de cloro para limpar. “Pra gente sobreviver, a gente tem que ter coragem”.

A família de Joana busca estar um degrau acima da miséria. Falta fair play com o povo brasileiro.