domingo, 1 de outubro de 2017

O NORDESTE E O SEMIÁRIDO




A REGIÃO  NORDESTE E O SEMIÁRIDO (Aula Magistral)

Marcus Pereira

Aula Magistral apresentada ao corpo docente do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco é parte integrante da disciplina Exame de Qualificação, e serve de requisito para obtenção do título de licenciado em geografia. Tendo como orientadora a Profª Drª Marlene Maria da Silva. 



"A terra é uma só, mas o mundo não. Todos dependemos de uma biosfera para sustentar nossas vidas. No entanto, cada comunidade, cada país luta pela sua sobrevivência e prosperidade, dando pouca atenção ao impacto que tem sobre os outros."
(Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, Oxford University Press, 1987, pág. 27.)



INTRODUÇÃO

No mundo, tem sido um desafio constante a sobrevivência do homem em ambientes com pouca oferta hídrica. No Nordeste e mais precisamente no Semiárido Nordestino não é diferente.

A água desperdiçada e seu uso inadequado expõem terras frágeis à desertificação. E isso já vem acontecendo com o nosso semiárido, onde a disponibilidade e a qualidade da água, que são determinantes para a qualidade de vida e para a estabilidade social da região, está cada vez mais escassa nesse início de século XXI.

Outro problema enfrentado na região é a  devastação, cada vez mais avassaladora,  do Bioma Caatinga (fauna e flora).

Ao Semiárido resta, no entanto, esperar que o futuro  leve a solução da equidade de acesso aos poucos recursos hídricos, bem como à salubridade destes recursos que são, frequentemente, alvos de diversas formas de poluição e exploração, tanto em países de pouca oferta, quanto naqueles com abundância,  além da restauração do seu devastado bioma.

Neste trabalho a busca por entendimento e subsídios dentro da literatura disponível em língua portuguesa e, preferencialmente, de obras produzidas no Brasil, que dessem referências no que concerne ao tema  A REGIÃO NORDESTE E O SEMIÁRIDO, (fig. 1) e nos problemas desse espaço brasileiro, foi constante, embora não tenha sido fácil, até porque este tema geralmente não é enfocado de forma aprofundada, sendo tratado nos livros didáticos apenas de forma sumária.

Fig. 1

Ao estudarmos a região Nordeste nos surpreendemos com suas belas paisagens. Descobrimos a diversidade de sua fauna e flora e percebemos que a região alterna florestas densas, vastos palmeirais e caatinga ressequida. Podemos ver que na região  encontramos extensas chapadas e grandes planaltos pedregosos, que também encontramos um grande e caudaloso rio (o São Francisco). Ao estudarmos a região Nordeste constatamos suas diferenças socioeconômicas.
    
Quando estudamos a região Nordeste é que compreendemos sua dinâmica populacional, compreendemos o que é  viver nessa região, marcada por contrastes de miséria e riqueza.

Falar do NORDESTE E DO SEMIÁRIDO aos alunos do Ensino Médio é de extrema importância para que estes possam compreender as suas diferenças, seu espaço geográfico e toda dinâmica dessa região, principalmente a eterna busca por alternativas que venham fixar o homem nordestino a sua terra, hoje, mais do que nunca, a busca por soluções práticas para a convivência humana em ambiente diferenciado, como o que encontramos na região Nordeste e em especial no SEMIÁRIDO, que necessita de uma profunda reflexão, tanto no espaço local (NE do Brasil) como no espaço global, se faz necessário e urgente.

Com o objetivo de refletir acerca das peculiaridades dessa região, o presente texto abordará em sua primeira parte a região Nordeste com suas subdivisões e características. Em seguida. o semiárido será analisado dentro da perspectiva local englobado no contexto regional o que possibilitará fazermos uma comparação do semi-árido com o universo da região Nordeste.


NORDESTE

Figura 2


A área territorial da região Nordeste é quase três vezes maior que a da França, o terceiro mais extenso país europeu. Com 1.550.939,5 km² de extensão, equivalente a 18,2% do território brasileiro, abrigando uma população de 47.693.253 hab. (dividido em 09 estados), que representa 28,1% do total nacional (IBGE, 2000). (tabela 1).


A região Nordeste é economicamente subdesenvolvida, o que explica a migração de sua população, que busca, em outras regiões, melhores condições de vida. Essa característica de subdesenvolvimento deriva , em grande parte, de problemas socioeconômicos, agravados pela adversidade do meio natural do espaço sertanejo, de clima semárido e também pela falta de políticas públicas mais arrojada para a região, embora isso tenha mudado nos últimos anos.

O relevo da região, predominam terras baixas, de altitudes inferiores a 1.000m. As planícies ocorrem ao longo da costa e os planaltos no interior. Neste se destacam as chapadas, muitas vezes conhecidas como serras.

A planície costeira é extremamente larga ao norte, estreitando-se no Nordeste oriental. O noroeste da região é ocupado por relevos de topo aplainado (chapadas). Na planície costeira dos estados do leste são comuns praias, dunas e tabuleiros e, também, mais para o interior, chapadas de topo planos, como a do Apodi (Rio Grande do Norte e Ceará). No interior da região predomina os planaltos, no qual se destacam a serra do Ibiapaba e trechos de rochas mais resistentes, que foram preservadas de desgaste mais intenso: a chapada do Araripe (Ceará, Piauí e Pernambuco) e a serra de Baturité (Ceará).

O planalto da Borborema (Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte) forma uma espécie de obstáculo entre o Litoral e o Sertão, impedindo a passagens das chuvas.

Embora apresente rios extensos e caudalosos como o Parnaiba e o São Francisco, a hidrografia no Nordeste é, na maior parte, constituída de rios temporários, ou seja, rios rios que secam após o período de chuva.

O rio São Francisco (fig. 3) responde por 73% de disponibilidade de águas superficiais do Nordeste (CODEVASF , 2001), viabilizando a agricultura na região através de projetos de irrigação.



Figura 3



Mesmo durante a estação seca o rio São Francisco mantém, em grande parte de seu leito, um volume elevado de água, devido a alta pluviosidade nas áreas próximas a sua nascente, na Serra da Canastra (MG), na região Sudeste. Já em outras áreas, o nível de suas águas baixa, deixando a mostra bancos de areia que dificultam a navegação entre outras atividades.

O Nordeste apresenta dois tipos de clima: o equatorial, no oeste do Maranhão, e o tropical, no restante da região. O clima tropical, entretanto, apresenta-se de duas formas: O tropical úmido e o tropical semi-árido.

A ocorrência de chuvas na região Nordeste é bastante desigual, onde podemos encontrar áreas bastante úmidas, como o extremo noroeste e alguns pontos do litoral e uma área bastante castigada pela falta dessa água, sertão, que em sua maior parte, recebe menos de 1.000mm anuais de chuva, apresentando áreas extremamente críticas.

A variação do volume das chuvas no Nordeste é provocada, entre outros fatores, pelo planalto da Borborema (Fig. 4), (Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte). Devido a sua posição geográfica, esse planalto impede a passagem dos ventos úmidos do oceano Atlântico para o Oeste (interior), fazendo com que estes cheguem secos e influenciando diretamente na umidade do litoral.

Fig. 4


Quando a escassez de chuvas é muito prolongada, ocorrem as secas, causando grandes problemas a região (socioeconômico). A causa desse fenômeno está ligada pelo fato das massas de ar de desviarem para o litoral e para a parte central da América do Sul, tendo seu agravamento quando ocorre o fenômeno natural conhecido com El Niño: Onde fortes massas de ar se deslocam do litoral peruano para o Brasil e bloqueiam as massas de ar frio e úmido, fazendo com que a influencia dessas massas, já reduzidas, diminua ainda mais.

Na região encontramos diferentes tipos de vegetação: Floresta Amazônica, que a medida que nos dirigimos para o leste, vai desaparecendo, dando lugar a Mata dos Cocais. - Essa mata cobre grande parte do Maranhão e do Piauí - que recebe esse nome devido a presença de numerosas palmeiras, como o babaçu e a carnaúba. Nas áreas em que as chuvas são mais escassas e as estações se definem entre seca e chuvosa, os Cocais vão desaparecendo e surge o Cerrado. Nas áreas onde a quantidade de chuva é ainda menor, aparece o clima semiárido e a Caatinga. Próximo ao litoral surge a floresta tropical úmida de encosta ou Mata Atlântica.

Podemos dividir de várias maneiras um espaço para analisarmos geograficamente: se levamos em conta os diferentes elementos naturais, como relevo, solo. clima, hidrografia e vegetação, esse espaço constitui um domínio morfoclimático; caso os elementos sejam também de ordem econômica, como exploração do solo, presença de indústria, comércio, produção de energia e transportes, esse espaço pode constituir uma sub-região.

As características físicas dessas áreas estão associadas ao tipo de povoamento e as principais atividades econômicas, formando, assim, no Nordeste, as sub-regiões: Meio-Norte, Litoral/ Zona da Mata, Agreste e Sertão. (Fig. 5).

Fig. 5.

 A região Nordeste é ocupada por três grandes domínios morfoclimáticos: o domínio amazônico, que ocupa a parte oeste do Maranhão; o domínio das florestas tropicais, que forma uma estreita faixa litorânea, desde o Rio Grande do Norte até a Bahia, e o domínio da caatinga, que ocupa o Semiárido (Sertão), parte do litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte. Faixas de Transição separam esses domínios.

O LITORAL E A ZONA DA MATA é representada pela parte da planície litorânea que se estende do Rio Grande do Norte até o sul da Bahia (MOREIRA, 2000), com uma largura que varia de 80km a 200km. Apresenta clima tropical úmido, o que lhe proporciona rio caudalosos e perenes, chuvas abundantes e bem distribuídas durante o ano e vegetação higrofila, representada pricipalmente pela densa Mata Atlântica.

Atualmente, essa floresta encontra-se praticamente devastada e no solo fértil onde ela existia encontramos diversos cultivo agrícolas, com destaque para a cana-de-açúcar.

A planície costeira da Zona da Mata é mais estreita que a do Meio-Norte. É uma faixa com belas praias, onde também aparecem dunas, sobretudo no Ceará e no Rio Grande do Norte, e recifes, principalmente em Pernambuco.

O limite dessa costeira é marcado pela presença abrupta de chapadas e planaltos, merecendo destaque a Chapada Diamantina, como limite das planícies na Bahia, no sul da região e o planalto da Borborema, como limite ao norte.

O clima da Zona da Mata é também tropical, mas bastante úmido; no sul, as chuvas são bem distribuídas o ano inteiro, ao passo que ao norte elas se concentram no outono-inverno

O AGRESTE corresponde a zona de transição entre o Litoral úmido e o Sertão semiárido (MOREIRA, 2000), uma estreita faixa a oeste da zona litorânea, onde o clima é quente o ano todo. Entretanto, não chega a ser uma sub-região seca: a intensidade e o volume das chuvas são um meio-termo entre as chuvas escassas do Sertão e as frequentes chuvas do Litoral e da Zona da Mata. Como consequência da temperatura e do regime pluvial, a vegetação apresenta-se sem grande exuberância - é caatinga hipoxerófita.

O relevo do Agreste é acidentado, pois a maior parte dessa faixa situa-se no topo dos planaltos e chapadas, em altitudes que variam de 500m, na Borborema, até quase 2.000m, na chapada Diamantina. Essa altitude influi nas temperaturas, que se apresentam menos elevadas que no Litoral e na umidade, que oscila entre 800mm e 1.000mm por ano. As chuvas, concentradas no período de outono/inverno, são relativamente abundantes nas vertentes voltadas para o litoral (barlavento) e bastante reduzidas a oeste (sotavento), o que já anuncia o Sertão.

O SERTÃO fica localizada bem no centro do Nordeste e representa uma área extensa, de clima semiárido, onde está localizado o “Polígono das Secas”. Está sub-região atinge quase todos os Estados Nordestino, a exceção é o Maranhão. Esta sub-região possui o menor índice demográfico do Nordeste.

Os índices de pluviosidade são baixos e irregulares, com uma frequente ocorrência de secas. A vegetação típica é a caatinga. A bacia do rio São Francisco é a maior da região e a única fonte de água perene para as populações que habitam suas margens, é aproveitado também para irrigação e fonte de energia através de hidrelétricas como a de Sobradinho (BA).

As maiores concentrações populacionais estão nos vales dos rios Cariri e São Francisco. A principal atividade econômica é a pecuária extensiva e de corte. Outras atividades desenvolvidas no Sertão são: cultivo irrigado de frutas, flores, cana de açúcar, milho, feijão, algodão de fibra longa (no Vale do Cariri, Ceará), extração de sal (litoral cearense e potiguar) e o turismo nas cidades litorâneas. A indústria baseia-se no polo têxtil e de confecções. Políticas públicas são necessárias para o desenvolvimento socioeconômico no Sertão nordestino, proporcionado qualidade de vida para sua população.

O MEIO-NORTE, formado pelo Maranhão e quase todo o Piauí, surge como um espaço de transição entre a Amazônia, úmida e coberta de floresta e o Sertão (MOREIRA, 2000), castigado pelas secas e recoberto pela caatinga. Por esse motivo, apresenta características naturais de ambas as regiões.

O relevo do Meio-Norte é mercado por uma planície costeira bastante larga, seguida de elevações não muito altas, que formam chapadas sedimentares de topo aplainado. Essas elevações, conhecidas em seu conjunto como planalto do Meio-Norte, são percorridas por numerosos rios, bastante caudalosos, que descem pelas chapadas e se dirigem ao litoral; alguns desembocam na grande reentrância conhecida como golfão Maranhense (MOREIRA,200).

Esses rios são aproveitados economicamente, com destaque para, Mearim, o Itapecuru, o Pindaré e o Parnaíba, que limitam o Maranhão e o Piauí.

O Meio-Norte apresenta um clima caracteristicamente equatorial; por isso, as temperaturas são elevadas o ano todo e as chuvas abundantes, principalmente no oeste, nos limites com a Amazônia.

O SEMI-ÁRIDO NORDESTINO

O Semiárido brasileiro é um dos maiores, mais populosos e também menos seco do mundo. Estendendo-se por 892.809,5km², abrange 41,8% da região Nordeste, atingindo ao norte de Minas Gerais, os sertões da Bahia, de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e uma parte do sudeste do Maranhão. Nela vivem aproximadamente 12% da população brasileira (embora rarefeita), ou seja, mais de 19 milhões de pessoas, sendo 8,5 milhões na área rural, (IBGE, 2000). Ver tabela 2.

Apresenta um solo raso e pedregoso e clima seco, que dificultam a atividade agrícola, sendo a pecuária extensiva uma viável alternativa à economia local.

Quando se prolongam por muitos anos, as secas compõem um quadro de miséria e fome. Existem ocasiões em que a seca se estende por mais de 85% do do total da área nordestina atingindo mais de 25 milhões de pessoas (IBGE, 2000).

Mesmo existindo uma grande dispersão espacial das famílias residentes nas áreas rurais do Semiárido, essa convivência, homem/semiárido, há anos vem sendo possível (estima-se que 70% das comunidades concentrem apenas 24% das famílias (IBGE,20000). Graças a experiências simples, com a prática de métodos baratos e eficientes de captação e armazenamento de água das chuvas, por meio da contrução de: Cisternas ruras, barragens subterrâneas, sistemas simplificados de abastecimentos de água, dessalinizadores (integradas a um processo educativo para um adequado manejo e uso da água), tudo isso certamente é o que vem trazendo uma significante melhora na sáude dos sertanejos e na convivência dos mesmos com o ambiente semiárido.

O relevo é constituído, em grande parte, pelos - planaltos cristalinos de superfície arrasada - bastante aplainados, das depressões entre chapadas - planaltos sedimentares de topo plano - como as do Araripe (Ceará - Pernambuco) e do Apodi (Ceará - Rio Grande do Norte) (Fig. 6). No topo e nas encostas de algums relevos elevados encontram-se os "brejos", áreas que se destacam por apresentarem maior umidade dentro do Sertão. De maneira geral, os solos são areias quartzosas, nas áreas sedimentares, rasos, pedregosos e impermeáveis à água da chuva, nos terrenos cristalinos.

Fig. 6 - ROOS, Jurandyr L. Sanches, 2001
O relevo do semiárido, ou seja, os aspectos topográficos exercem grande importância no que refere-se aos recursos hídricos da regiõa (SUASSUNA; AUDRY, 1992).

Quanto a hidrografia, a maioria dos cursos de água que atravessam o Sertão é intermitente - não correm o ano todo - secando completamente nas estiagens prolongadas. Os maiores rios do Sertão, como o Jaguarube e o Mossoró, são considerados "semi-internitentes" por ficarem com o volume de água bastante reduzido, mas nem sempre chegam a secar. O único rio perene - que corre o ano todo - que atravessa grande área do Sertão é o São Francisco, apelidado, por isso, de "Nilo Brasileiro".

No Escudo Cristalino, os solos geralmente são rasos (cerca de 0,60m), apresentando baixa capacidade de infiltração, alto escorrimento superficial e reduzida drenagem natural (fig. 6b). Numa comparação grosseira, é como se esses solos estivessem sobre um prato, onde a pouca quantidade de água que consegue se infiltrar é armazenada no fundo (SUASSUNA, AUDRY, 1992).

Nas Bacias Sedimentares, os solos geralmente tem profundidades superiores a 2m, podendo ultrapassar 6m, tendo alta capacidade de infiltração, baixo escorrimento superficial e boa drenagem natural. Estas características possibilitam a exxistência de um grande suprimento de água de boa qualidade no lençol freático que,pela sua profundidade, está totalmente protegido da evaporação (fig. 6a) (SUASSUNA; AUDRY, 1992).

O clima é o Tropical Semiárido, caracterizado por altas temperaturas e chuvas que, além de escassas, são também mal distribuídas, pois as precipitações concentram-se apenas no verão, ocasionando estiagens prolongadas que podem estender-se além dos 7 a 8 anos secos, originando secas periódicas. A região apresenta os menores índices pluviométricos do país, menos de 1000mm anuais, e temperaturas médias entre 24ºC e 27ºC (SUDENE, 2000).

Fig 6a e 6b - Fonte: SUASSUNA; AUDRY, 1992.

Na realidade, o que caracteriza a seca do semiárido não é o total de chuvas caídas e sim a irregularidades de sua distribuição.

A chuva que é mal distribuida espacial e temporalmente, devido as características climáticas da região, é armazenada, em maior parte, em barreiros, açudes ou baixadas, estes geralmente ambientes poluídos e cheios de vermes. Essa água acumulada é responsável por grande parte das doenças do Sertão: amebiase, tifo, cólera (CARÍTAS BRASILEIRA, 2001).

O Nordeste também possui um dos maiores índices de evaporação do Brasil, alcançando uma média em torno de 2000mm anuais, o que torna reservatórios de água pouco profundos inúteis em época de seca (SUASSUNA; AUDRY, 1992).

Ainda sobre o clima, (ANDRADE; LINS, 1991), em seu minucioso estudo sobre os climas do Nordeste, afirmam que as variações climáticas da região sofrem influências basicamente, da ação de massas de ar que para ali se deslocam.Segundo os autores, várias são as massas de ar que interferem na formação dos climas do Nordeste. São elas: a Equatorial Atlântica (Ea), a Equatorial Continental (Ec) a Pola (P), a Tépida Atlântica (Ta) e a Tépida Calaariana (Tk). (fig.7).

Fig. 4 - Circulação das massa de ar formadoras dos climas do Nordeste
 Fonte: SUASSUNA; AUDRY, 1992


O outro fator importante na formação do clima é a configuração de seu relevo, quando ocorre o chamado efeito orográfico indutor de nuvens (fig. 8) Normalmente, quando uma massa de ar tépido (nem quente nem frio) vai de encontro a uma encosta, ela se resfria, á medida que se eleva para ultrapassar a encosta. Por isso, normalmente, a barlavento, este ar torna-se fresco, condensa-se e ao atingir uma condição de instabilidade, causando a ocorrencia de chuvas. A este fenômeno dá´se o nome de  EFEITO OROGRÁFICO ou ocorrência de chuvas de relevo. Havendo esta descarga, o ar normalmmente torna-se seco e quente. É o exemplo de Triunfo (PE) a barlavento com precipitação média anual de 900 a 1.000mm (ANDRADE, 2003) e Cabaceiras (PB), localizada na região mais seca do país, com precipitação de 278mm, abrigada da massa de ar úmida, a sotavento do alinhamento Cornió-Caturité-Bodopitá, a 160km do litoral (RODRIGUEZ, 2002).

Fig. 8

A Vegetação predominante na região é a caatinga, que muda de feição de acordo com a umidade ou a fertilidade do solo, existindo, por isso, caatingas arbóreas, arbustivas e até herbáceas (CASTELLAR; MAESTRO, 2001). Em todo Nordeste dentro de cada região geoeconômica, percebe-se a variação da vegetação, influência direta do regime de chuvas causadas pelas características de cada uma delas.

Com temperaturas elevadas e chuvas escassas e principalmente irregulares, o Semiárido é o ambiente favorável para o desenvolvimento de plantas com fácil adaptação a semi aridez do clima (xerófilas) (CARITAS BRASILEIRA, 2001).

Observando a fig. 6, vamos encontrar uma variação no que diz respeito a irregularidade espacial das chuvas e da oferta hídrica, bem como a importância exercida por esses fatores na ocupação espacial do NE Brasileiro.

No contexto intertropical do Brasil, o Nordeste é a região que possui a maior diversidade de quadros naturais (SUASSUNA; AUDRY, 1992).

O extrativismo vegetal e a pecuária são as atividades econômicas mais praticadas, embora o sucesso da agricultura irrigada em algumas áreas (ao longo do São Francisco), mostre a importância de aumentar os investimentos nesse setor.

O domínio da caatinga constitui a área ocupada por um conjunto vegetal formado por pequenas ávores esparsas, que perdem as folhas durante o período da seca marmeleiro, juazeiro), arbustos espinhosos com plantas xerófilas - adaptadas a escassez de água (semi=árido), armazenando-a - como as cactáceas mandacarú, facheiro, xique-xique e vegetação rasteira, tufos de gramíneas esparsas que secam totalmente nas estiagens. Nos vales de alguns rios do Sertão, encontram-se carnaubais nativos (formação de palmeiras de carnaúba), baraúnas (árvores que atingem até 12m de altura, com folhas aromáticas, ramos espinhosos e flores brancas muito pequenas, cuja madeira, duríssima. serve para dormentes), maniçoba (árvoreta da qual se extraia, no passado, o látex de "segunda classe" para produzir borracha) (SUDENE, 2000).



A economia  do Semiárido nordestino tem como destaque a pecuária extensiva - gado bovino e caprino - difundindo-se, junto com seus subprodutos, no domínio da caatinga. Na atual conjuntura, no Semiárido não encontramos uma lavoura dominante, apenas destaques pontuados como a fruticultura irrigada e o avanço da soja.

A alimentação da maioria da população sertaneja provém de uma precária agricultura de subssistência ao longo dos rios internitentes, possibilitando o uso da terra em suas largas calhas e de seus parcos excedentes comercializados em feiras. Trata-se, principalmente, de feijão, mandioca, milho - base alimentar - e produtos do pequeno comércio. Com as estiagens prolongadas e as conseqüentes secas, essa produção é afetada diretamente, o que compromete de forma decisiva a oferta de alimentos (CARITAS BRASILEIRA, 2001).

No Sertão ainda subsistem produtos extrativistas e de cultivo localizado, como caroá, piaçava e sisal para produção de fibras; maniçoba e mangabeira para produção de goma; oiticica para produção de óleo e carnaúba para produção de cera (PIFFER, 2003). A fruticultura mais importante no Sertão é o caju, sobretudo no Ceará e Rio Grande do Norte.

No Sertão baiano, nas terras que se estendem à margem esquerda do rio São Francisco em sua grande maioria áreas de cerrado, vêm, nos últimos anos, sendo ocupadas pelo cultivo de soja.

Mas, no vale do rio São Francisco, muito aproveitado com a construção de barragens e usinas hidrelétricas do Centro-Sul ao Nordeste, a maior parte das várzeas ainda continua mal aproveitada. Embora nas últimas décadas, venha sendo implantados, com sucesso, alguns projetos agropecuários onde se destacam a fruticultura irrigada, nas regiões de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), com produção intensiva de melão, manga, cítricos e uva, entre outros (CODEVASF, 2001). Esses projetos são ainda exceções num vale marcado, no geral, pela estagnação econômica, pela miséria e abandono da maior parte da população.

CONCLUSÃO

Na realidade, a intenção principal ao abordar esse tema foi deixar claro que a falta d'água na região Nordeste e mais efetivamente no eixo caracterizado como o semiárido propriamente dito, nada mais é, que um fenômeno natural, e que acima de tudo devem ser discutidas alternativas tecnológicas para a convivência com este fenômeno, qual modelo de ocupação, quais as formas de se aproveitar os poucos recursos hídricos, as chuvas quando estas chegarem.
A pretensão em relação ao aluno, o final da aula, é que o mesmo esteja apto a responder duas perguntas:

Porque chove pouco no Sertão Nordestino?

Como conviver com a pouca água do semiárido?


É fundamental que, na escola, se ensine que a adoção de alternativas tecnológicas se não soluciona, pode amenizar o problema de escassez ou falta de água potável nas áreas rurais do semiárido brasileiro.

Outro ponto importante a se destacar para os jovens do ensino médio, são os problemas sociais e econômicos da região Nordeste, que apesar de serem muitos e graves, não são insolucionáveis. Que acabar com a fome e a pobreza, na região, depende de honestidade, correção na aplicação de recursos e combate ao desperdício.

 REFERÊNCIAS

ANDRADE, Gilberto Osório de; LINS, Rachel Caldas. Os Climas do Nordeste, IN: As Regiões Naturais do Nordeste, o Meio e a Civilização, Recife: CONDEPE, 1971. p. 95 - 138.

ANDRADE, Manuel Correia de; (Coord.). Atlas Escolar de Pernambuco. João Pessoa, 2003.
 
CARITAS BRASILEIRA, Comissão Pastoral da Terra - FIAN/Brasil. Água da Chuva - O segredo da convivência com o Semiárido brasileiro. Petrópolis - RJ: Edições Paulinas.

CASTELLAR, Sônia; MAESTRO, Valter. Geografia 6. São Paulo: Quinteto Editorial, 2001.

CODEVASF. Almanaque Vale do São Francisco. Brasilia, 2001.

IBGE. Censo demográfico 2000. Rio de Janeiro, 2001.

IBGE. Atlas Nacional do Brasil: Região Nordeste. Rio de Janeiro, 1985.

MOREIRA, Igor. Geografia Geral e do Brasil: O Espaço Geográfico, 40ª Ed. São Paulo: Ática, 2000.

PIFFER, Osvaldo. Geografia no Ensino Médio. São Paulo: IBEP, 2003.

RODRIGUEZ, Janete Lins (Coord.). Atlas Escolar da Paraiba. João Pessoa: 2002.

SUASSUNA, João; AUDRY, Pierre. Estudo da Salinidade de Águas Utilizadas em Pequena Irrigação no Nordeste e da Sua Evolução Sazonal, durante os anos de 1988 e 1989, informe Técnico. In: "Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste", CNpq/NDEQ/FUNDAJ, Anais: Recife, 1992b. p.303-305.

SUDENE. O Nordeste Semi-Árido e o Polígono das Secas. Recife, 2000.



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